INHOTIM
560 obras de arte de autoria de mais de 60 artistas de 38 países diferentes. Tudo isso distribuído em 140 hectares. Estamos falando de um dos mais importantes museus de arte contemporânea do mundo. Sabe onde fica? Brumadinho, Minas Gerais. É o Instituto Inhotim.
A quantidade de obras citadas diz respeito apenas ao acervo permanente. Além delas, outras obras temporárias circulam por 4 das 23 galerias do instituto. Mas, diferente dos espaços expositivos convencionais, essas galerias não estão ligadas por um corredor. Inhotim é o maior museu de arte a céu aberto da América Latina, e é andando pelo enorme jardim botânico – com cerca de 4,5 mil espécies de plantas – que você descobre as salas e as criações expostas ao ar livre.
Integrando arte, natureza, cultura e arquitetura, o instituto busca uma experiência singular, diferente de tudo que é visto nos museus urbanos. O visitante é convidado a perder-se entre lagos, trilhas e obras. Se engana quem pensa que a experiência apenas acontece conosco. Aos artistas, o espaço permite condições únicas de exposição, inspirando diversas criações site-specific.
É o caso de Beam Drop, de Chris Burden. A escultura foi produzida pela primeira vez em 1984 em Nova Iorque, e destruída três anos depois. Em 2008, o artista a recriou em Inhotim. A obra, composta de vigas de metal fincadas no solo, é uma das atrações a céu aberto do museu. Robert Irwin também incluiu os jardins em sua criação. Pensando na incidência da luz natural em um ponto específico do terreno e nas experiências que isso geraria ao público, construiu sua instalação em 2019.
Não apenas de nomes internacionais é composto um museu de arte contemporânea. Grandes artistas brasileiros compõem galerias e exposições pelo mundo, e em Inhotim não poderia ser diferente. Desde o escultor tropicalista Hélio Oiticica, a Claudia Andujar com os retratos Yanomami, muitos nomes do país antropofágico ocupam as galerias e os jardins, com obras feitas de 1960 até hoje. É nas diversas linguagens artísticas (entre escultura, fotografia, pinturas, instalações, performances e obras mistas) que Inhotim se constrói como acervo de excelência internacional de arte contemporânea localizado a apenas 60 km da capital de Minas Gerais.
Andando pelo largo terreno, nos deparamos com o pavilhão dedicado a Tunga e com diversas de suas criações, como a famosa True Rouge. Na galeria de Cildo Meireles, entramos em Desvio para o vermelho e Através, obras mistas que nos permitem caminhar por dentro do objeto artístico. Nos 150 vasos de cerâmica em forma de letras de A origem da obra de arte, interagimos e criamos a partir da proposta da artista mineira Marilá Dardot. Já em Celacanto provoca maremoto e no restante da galeria dedicada exclusivamente a Adriana Varejão, temos um mergulho no trabalho da carioca.
É nesse cenário, que o público tem acesso a um conjunto de obras relevante, que pretende refletir a complexidade da arte contemporânea – nacional e internacional. O Instituto afirma que, desde o início, sua missão é criar um acervo artístico e definir estratégias museológicas que possibilitem o acesso da comunidade aos bens culturais. Por isso, promove ações educativas, oferece entradas gratuitas às quartas-feiras e recebe uma série de visitações – como a da própria Paleta, que acontece anualmente.
Além disso, o programa “Nosso Inhotim” busca aproximar a população local, oferecendo entrada gratuita a moradores da região. O projeto foi ampliado em 2019, após a tragédia de Brumadinho, que pôs a cidade em foco nacional.
ENTRE MINÉRIO E LAMA
O rompimento da barragem fez o assunto dos noticiários. O Instituto não foi afetado diretamente, mas teve uma queda de 80% em sua visitação. Porém, a história de Inhotim com barragens de minério vem de antes. Bernardo Paz, fundador do espaço, homem que colecionava obras de arte e abriu o acervo a público, estava também envolvido com extração de metais. Ele foi dono do grupo Itaminas, conglomerado composto por 29 empresas das áreas de mineração e siderurgia. As barragens e a lama envolvem o Instituto e inebriam sua história. Foi, em partes, o dinheiro que bancou a construção do importante museu que, de certa forma, criou o cenário para a tragédia que assola a cidade que o abriga. O tema nos traz reflexões, inclusive sobre os mecenas e os financiamentos da arte ao longo da história.
Em meio às obras e discussões, o Instituto retrata, em diversas camadas e experiências, a complexidade do cenário artístico contemporâneo. É exatamente por isso que uma só visita não basta. Novos projetos são inaugurados constantemente e o Inhotim está em permanente transformação.
Para destrinchar o espaço que inseriu o interior de Minas Gerais no cenário internacional de arte contemporânea, um só texto também não basta. Por isso, se quiser entender melhor as propostas, as experiências e os dilemas do Instituto, vem ouvir o episódio do Podcast Arte Paleta sobre o museu (e quem sabe, nos acompanhar na próxima visita em 2021)!